quinta-feira, 30 de abril de 2015

Rosa Branca



Cultivo uma rosa branca,
em julho como em janeiro,
para o amigo verdadeiro
que me estende sua mão franca.

E para o mau que me arranca
o coração com que vivo,
cardo ou urtiga não cultivo:
cultivo uma rosa branca.❞R Cresppo ☧

Renda-se


Renda-se, como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.
Viver ultrapassa qualquer limite.❞R Cresppo ☧

terça-feira, 28 de abril de 2015

O combustível


Te sentir é reagir a diversas
frustrações da vida.
Sua beleza me acalma, domina e fascina
Seu jeito carinhoso, amável me deixa completamente desarmado
Em plena guerra, a "guerra dos sexos"
Saber o que você sente é o que me faz ir à frente
Seguir uma meta, traçar um objetivo, e sei que você
Estará lá, com seu lindo sorriso me esperando
Para passarmos o resto das nossos vidas juntos.

E o combustível para rodar essa engrenagem da vida
É o amor, carinho, paciência, lealdade, sinceridade
Que temos que ter um pelo outro
E a única forma que esse combustível nunca acabe é
Confiando em Deus as nossas vidas,
Temos que fazer um triangulo entre você, eu e Deus
E que não falte nenhuma ponta desse triangulo
Porque se faltar uma ponta falta todo o triangulo.

Não quero ser grudento com você 
No sentir pensar e agir,
Só quero falar o que sinto
E não ter medo de sentir 
O que me fez emergir
De um sono profundo 
Que eu não não sabia como 
Acordar e levantar e a poeira soltar
E o vento que soprou a poeira levou
Levou para para mais leve eu ficar
E o coração pronta a amar.
Levantei e não quero mais deitar
Porque se deitar acho que não vou levantar 
E o coração fechado ficará!❞R Cresppo ☧

O casamento



O casamento vem do amor, assim como o vinagre do vinho.❞R Cresppo ☧

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Фéликс Эдмýндович Дзержи́нский (Feliks Dzierżyński)

Postado originalmente em São Paulo, 13 de Março de 2014 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/feliks-dzierzynski.html]


Фе́ликс Эдму́ндович Дзержи́нский (Feliks Dzierżyński) - (ныне Воложинский район, Минская область, Белоруссия — 20 июля 1926 года, Москва, СССР)

Felix Edmundovich Dzerzhinsky, conhecido também como Iron Felix, ou ainda Bloody Felix, foi o grande arquiteto da desinformação sistemática, criador da primeira polícia secreta soviética, a Cheka (ЧК – чрезвыча́йная коми́ссия chrezvychaynaya komissiya). 
Quando Lênin perguntou, ainda em 1918 a Dzerzhinsky, sobre qual a estratégia que deveria ser adotada para influenciar o resto do mundo, recebeu como resposta: "diga sempre o que eles querem ouvir, minta, minta sempre e cada vez mais. De tanto repetir as mentiras elas acabam sendo tomadas como verdades."
Esta expressão, levemente modificada, foi copiada por Paul Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda e do Esclarecimento do Povo do III Reich a quem foi atribuída, erroneamente e provavelmente de má-fé, a autoria.

por O abre aspas❞R Cresppo ☧

O violento violeta violado

Postado originalmente em São Paulo, 17 de Dezembro de 2013 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/o-violento-violeta-violado.html]




Outro entardecer matizado, lilás
Algumas boninas e bem me queres
Sobre meu vestido que na pele adere
Baudelaire entenderia, tudo é sagaz
A roupa colada ao corpo, molhada
Banhei-me feliz em águas salgadas
Nadei veloz como uma sereia e cantei
Hipnotizei o sol, à noite adiantei
Saciei-me. Que avance a madrugada!

▓ Eu lírico feminino (2013)

por O abre aspas❞R Cresppo ☧

A chuva passageira leva

Postado originalmente em São Paulo, 17 de Dezembro de 2013 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/a-chuva-passageira-leva.html]



No quintal arqueado um pé de
Juazeiro jaz.
Nesta seca, um fruto maduro é
Recompensa para um nordestino
Tão sofrido.
Olha para o céu e num sussurro
Entristecido, lembra-se de que
É o último...
Como ele o pé de juá exausto está.
Resta pouco desta terra ressequida,
Mas há esperança fincada ali.
Amanhã talvez, quiçá,
Ao romper da luz divina, o sertanejo
Desperte com o cheiro da chuva
Sagrada que se aproxima...
Abraçado ao pé de juazeiro, vai
Humildemente agradecido,
Viver no paraíso!


por O abre aspas❞R Cresppo ☧

O poder do poder

Postado originalmente em São Paulo, 18 de Dezembro de 2013 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/o-poder-do-poder.html]



No céu um avião desliza.
Pássaro alado do imaginário
Instante.
Vem rápido, vôo rasante.

Aflitos os girassóis no
Campo debatem-se e as
Borboletas perdem as asas.

Rotina e dias confusos e
Oblíquos.
Tentativa de sobrevivência,
Não obstante de lutas.

Mas o que fazer se os grandes
Passam demolindo as pequenas
Criaturas.
As pétalas arremessadas,
Vão-se os pedaços da alma.


E as raízes expostas pedem
Apenas misericórdia,
mais um dia de vida!


por O abre aspas❞R Cresppo ☧

Emozione, mi tradisce

Postado originalmente em São Paulo, 16 de Dezembro de 2013 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/emozione-mi-tradisce.html]



Emoção, que traidora você me saiu!
Me desmente assim na frente de todos,
Me faz tomar atitudes ridículas
que eu sempre detestei e neguei e nem sei.

por O abre aspas❞R Cresppo ☧

Quod fides credere non occiderat.

Postado originalmente em São Paulo, 16 de Dezembro de 2013 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/quod-fides-credere-non-occiderat.html]



Não quero saber para crer, mas crer para saber.

por O abre aspas❞R Cresppo ☧

Desine seditionem

Postado originalmente em São Paulo, 12 de Dezembro de 2013 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/desine-seditionem.html]



Quando se conseguiu encontrar a razão, esta aumenta a concórdia fazendo cessar a rebelião.
Já não há lugar para a competição, pois reina a igualdade.
Por seu intermédio podemos reconciliar-mos com nossas obrigações.
Devido a ela, recebem os pobres dos poderosos e os ricos dão aos necessitados, pois ambos confiam em possuir mais tarde com igualdade.
Regra e obstáculo dos injustos faz desistir os que sabem raciocinar, antes de cometerem injustiça, convencendo-os de que não podem permanecer neutros quando voltarem ao mesmo lugar; aos que não compreendem, revela-lhes a sua injustiça, impedindo-os de cometê-la.

por O abre aspas❞R Cresppo ☧

Angústia, hoje e a culpa

Postado originalmente em São Paulo, 12 de Dezembro de 2013 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/angustia-hoje-e-a-culpa.html]




A origem de toda a angústia é a de ter perdido o contato com a verdade.
Nem chega a ser útil saber o que acontecerá: é muito triste angustiar-se por aquilo que não se pode remediar.
O indivíduo, na sua angústia de não ser culpado mas de passar por sê-lo, torna-se culpado.

por O abre aspas❞R Cresppo ☧

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Guerras, Santas Guerras

Postado originalmente em São Paulo, 12 de Dezembro de 2013 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/guerras-santas-guerras.html]



Grande parte das culturas antigas concedia aos chefes, aos guerreiros e poderosos o direito de livrar-se, quando bem entendessem, dos fracos indesejáveis. Crianças, velhos e doentes podiam ser mortos por simples capricho de homens jovens e saudáveis que não queriam trabalhar para sustentá-los. Isso foi assim durante milênios. Foi assim no Egito, na Babilônia, no Império Romano, na China, na Arábia pré-islâmica. Foi assim entre os celtas, germanos, vikings, africanos, maias, aztecas e índios brasileiros. Foi assim quase por toda parte. O número de inocentes enterrados vivos, queimados, entregues às feras ou despedaçados em rituais sangrentos em nome dessa lei bárbara é incalculável.
É toda uma humanidade que foi eliminada do caminho dos fortes, ambiciosos e triunfantes senhores de antigamente.
O morticínio permanente só foi interrompido graças à ação de duas forças que emergiram bem tarde no cenário da História: o cristianismo, no Ocidente, o islamismo no Oriente. Antes delas, o judaísmo já conhecia a incondicionalidade do "Não matarás". Mas o judaísmo não é uma religião proselitista: os judeus, nação minoritária, limitaram-se a praticar entre si um modo de vida mais elevado e mais humano, sem poder ou pretender ensiná-lo aos povos em torno. (O budismo e o hinduismo também tiveram acesso a verdades similares, mas seu caso é especial e deixarei para analisá-lo noutra oportunidade.) Essencialmente, foi graças à moral cristã e à lei muçulmana que o universal direito à vida, revelado inicialmente aos judeus, se tornou patrimônio de todos os homens.
Não houve, ao longo da história, fato mais decisivo. Pois ele não importou somente numa extensão quantitativa. Ao transferir-se para classes de pessoas que antes não o desfrutavam, ou que o desfrutavam somente como concessão de outras pessoas, o direito à vida sofreu radical mutação qualitativa: passou de relativo a absoluto, de condicionado a incondicionado e condicionante. Tornou-se o primeiro de todos os direitos, do qual todos os demais decorrem.
Conceder ao ser humano um direito qualquer, de propriedade ou herança, por exemplo, negando-lhe ao mesmo tempo o direito de existir, é, de fato, apenas uma piada demoníaca. Mas essa piada foi o "script" verdadeiro das vidas de milhões de seres humanos.
Hoje em dia qualquer criança compreende que a prioridade do direito à vida é algo simplesmente lógico, que flui da natureza das coisas. Apóstolos dos "direitos humanos" tomam-no como uma obviedade elementar, como o pressuposto indiscutido e indiscutível dos seus discursos.
Mas poucos se lembram de que o reconhecimento dessa obviedade natural não foi natural nem óbvio. Para disseminá-lo, foi necessário vencer as resistências prodigiosamente obstinadas das culturas antigas. Monges, pregadores, santos foram trucidados por toda parte aonde levassem essa mensagem, tão evidente em si mesma quanto hostil a toda organização social fundada na precedência de outros direitos: direitos de sangue, direitos territoriais, direitos de casta. Para muitas culturas, ceder nesse ponto era abdicar de instituições, leis, privilégios milenares. Era autodestruir-se, era dissolver-se na unidade maior da cultura recém-chegada, portadora da nova lei. Muitos povos souberam adaptar-se à transição sem grandes perdas, tornando-se eles próprios porta-vozes da melhor notícia que a humanidade já havia recebido. Outros obstinaram-se na defesa de direitos imaginários. Por isso foi necessário destruir suas culturas.
A cada guerra empreendida pelos exércitos cristãos e islâmicos contra as nações que rejeitavam sua lei, foram garantidas, à custa da morte de uns milhares de soldados, as vidas de milhões de seus descendentes. A extensão dessa obra salvadora é imensurável. Jamais um bem tão fundamental foi legado a tantas gerações de seres humanos.
Por isso essas guerras foram santas. Por isso foi santa a vontade de domínio que fortaleceu mais os portadores do novo direito universal do que os defensores de costumes locais. Dos descendentes dos povos derrotados, que hoje, movidos por um saudosismo artificial e fingido, se prevalecem dos direitos recebidos dos vencedores para fazer a apologia das culturas derrotadas e condenar sua destruição como um crime inominável, a maioria, se os vencidos tivessem triunfado, simplesmente não existiria. Em algum ponto da história de suas famílias a continuidade da sua linha ancestral teria sido interrompida: sua bisavó teria sido sepultada viva, seu tetravô entregue às feras, o tetravô de seu tetravô estrangulado no berço ou largado no chão até morrer de fome -- tudo sob as bênçãos de reis, hierofantes e tradições veneráveis.
Em cada grupo de índios que aparecem gritando contra a destruição de sua cultura ancestral, uma coisa é certa: se ela não tivesse sido destruída, muitos deles não teriam vivido para ver a luz do dia.
Eu próprio, descendente de celtas e germanos, com muita probabilidade não estaria aqui escrevendo, se algum monge cristão não tivesse detido no ar o braço do sacerdote bárbaro, erguido para o sacrifício de um meu antepassado.
Por isso, alegar os "direitos humanos" como argumento para condenar a destruição de culturas que viveram de ignorá-los e desprezá-los é não apenas um contra-senso lógico, mas uma mentira existencial. Se os direitos do ser humano são primeiros e incondicionais, os direitos das culturas têm de ser, necessariamente, secundários e relativos. Para que os homens sejam iguais em direitos, é preciso que entre as culturas prevaleça não a igualdade, e sim a hierarquia que coloca no lugar mais alto aquelas que reconhecem a igualdade dos homens, a começar pela incondicionalidade do direito à vida. Entre a igualdade dos homens e a igualdade das culturas há uma incompatibilidade radical, que somente pode ser ignorada por uma ideologia autocontraditória, esquizofrênica e perversa.
Não obstante, é essa ideologia que prevalece hoje no ensino e nos meios de comunicação, induzindo crianças e jovens a revoltar-se, em nome do direito e da liberdade, contra as condições sem as quais esse direito e essa liberdade jamais teriam podido vir a existir.
Transmitir semelhante ideologia às novas gerações é cindir as inteligências em formação, cavando um abismo intransponível entre sua visão estereotipada do passado histórico e sua percepção da realidade presente. É destruir na base a possibilidade de toda consciência histórica, e, com ela, as condições de acesso à maturidade intelectual responsável.
É verdade que o discurso incriminatório contra as grandes culturas que humanizaram o planeta está na moda, que repeti-lo faz um professor brilhar ante a classe -- ou ante as câmeras -- como modelo de sujeito moderninho e de mente aberta. Mas até quando nós havemos de tolerar que a inteligência de nossas crianças seja sacrificada no altar das vaidades de professores que não sabem o que dizem?

por O abre aspas❞R Cresppo ☧

Da válvula, a estática; do medíocre, a estética.

Postado originalmente em São Paulo, 12 de Dezembro de 2013 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/da-valvula-a-estatica-do-mediocre-a-estetica.html]



Outrora da estática "feedbackiando" nos amplificadores valvulados, hoje em dia, o Rock'n'Roll é estética.
 █ em parceria com minha nova heroína, Carolina Tinoco "Heroína Irônica".
(2013)

por O abre aspas❞R Cresppo ☧

Senhor redator

Postado originalmente em São Paulo, 12 de Dezembro de 2013 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/senhor-redator.html]




Senhor Redator:
A constância obsessiva com que expressões de repugnância física - asco e desejos de vômito - aparecem nos protestos das pessoas que me odeiam é para mim um motivo de lisonja e satisfação. Assinala que, diante dos meus escritos, essas criaturas se vêem privadas do dom de argumentar. Paralisada a sua inteligência pela obviedade do irrespondível, vem-lhes o impulso irrefreável de uma reação física. Já que lhes arranquei a língua, querem sair no braço. Mas, como bater em mim seria ilegal e ademais as exporia à temível possibilidade de um revide, a última saída que lhes resta é voltar contra seus próprios corpos o sentimento de raiva impotente que as acomete, donde resulta todo um quadro sintomatológico de diarréia, tremores, cólicas e convulsões. Não suportando passar sozinhas por tão deprimente experiência clínica, apressam-se então em registrá-la por escrito e publicá-la na Folha de S. Paulo, na esperança de que alguém mais forte, revoltado ante a exibição de tanto sofrimento, dê cabo do malvado autor que as deixou nesse estado miserável.

Como esse anseio não se realizará, o que se recomenda para o momento é o tratamento de praxe com soro fisiológico para contrabalançar a perda de fluidos vitais.

por O abre aspas❞R Cresppo ☧

O "alguém"

Postado originalmente em São Paulo, 09 de Dezembro de 2013 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/o-alguem.html]



No Brasil de hoje não se discutem doutrinas, opiniões, coisas e fatos, mas pessoas. A linha de fronteira entre as correntes em debate é gostar ou não gostar do fulaninho.
A atividade pensante, nessa atmosfera, reduz-se à mútua esfregação dos egos – asinum asinus fricat –, e a enfezadas manifestações de repugnância coletiva aos que, por falta de tempo ou de interesse, não desejem participar desses jogos de masturbação recíproca em que tanto se comprazem as pessoas maravilhosas.
Infelizmente, como o número de envolvidos dessa atividade lúdica é demasiado grande para que todos as epidermes possam se tocar diretamente, a maioria anônima tem de se restringir a uma forma oblíqua e simbólica de participação, contentando-se com esfregar, à distância, as imagens midiáticas dos jogadores. A disputa entre os blocos de fãs de Marlene e de Emilinha Borba, nos anos 50, marcou para sempre o perfil da nossa fisionomia cultural, tornando-se o arquétipo dos debates filosóficos no país do bunda-lê-lê.
Numa dada discussão, por exemplo, ainda que de passagem, eu mencionasse o sr. Paulo Freire à guisa de exemplo de alguma coisa que vinha dizendo, quatro palermas se encresparam, agarraram-se ao nome do personagem para fazer dele o centro da discussão e, em bloco, como convém a foliões, saíram gritando: Ele não gosta de Paulo Freire? Que canalha! Tem de gostar! Tem de gostar!
No seu empenho belicoso, empregaram fartamente todo o erudito arsenal do ouvir-dizer, que naquele tempo tinha por fonte bibliográfica a Revista do Rádio e hoje a Rede Globo de Televisão.
Um deles, cuja carta, certamente em razão de sua relevância intelectual, saiu em formato de artigo, escreve uma página inteira contra O imbecil coletivo, só para no fim admitir que não o leu. Na página seguinte, oferece como prova de que Alberto da Cunha Melo, Gerardo Melo Mourão e Bruno Tolentino não podem ser grandes poetas o fato, certamente incontestável, de que também não os leu. Desejando pronunciar-se a favor de Paulo Freire, nada diz em defesa de suas doutrinas e práticas – para o que teria sido preciso conhecê-las, o que já seria exigir demais –, porém alega algo de mais decisivo: o tamanho do seu fã-clube. Tal é, de fato, o critério supremo de arbitragem nos programas de auditório.
Já contra minha afirmação de que a esquerda é hegemônica na Rede Globo, o referido articulista recorre a um modus arguendi ainda mais irrefutável. Fulmina-a pondo as mãos nas ancas, franzindo o narizinho com ar de desdém e deixando cair dos lábios em bico a sentença implacável com que as empregadinhas, do alto de seus tamancos, provam sua infinita superioridade ante os soldadinhos da PM: "Ah, é, mano?" E sai rebolando, todo vitorioso. Quem, com efeito, ousaria contestar tal argumento? Longe de mim tamanha pretensão.
Um outro, com ar de paternal sapiência, concede que "nem todas" as minhas opiniões são descartáveis, com o que logra obter infalivelmente o efeito desejado: dar à platéia a impressão de que as conhece todas, pintar com o pouco que ouviu dizer a imagem de um saber direto, vasto e notório, posar como o grande crítico que já absorveu e superou o meu próprio pensamento.
Não é preciso dizer que este também sai todo contente, como se tivesse feito realmente alguma coisa, remirando-se deleitosamente no espelho que lhe serve de consciência e pronunciando sobre si mesmo o juízo de consagração definitiva: "Mãe, olha eu.!"
Um terceiro, com ar misterioso, assegura que a expressão "o imbecil coletivo" é um erro de concordância, sonegando porém aos leitores profanos os fundamentos sintáticos de tão profunda assertiva, hauridos decerto numa ciência gramatical destinada, por uma cláusula pétrea da regra iniciática, a permanecer secreta para todo o sempre. Feito isto, nada mais disse nem lhe foi perguntado.
Do último, nada tenho a comentar, exceto que desfere contra mim a pergunta fulminante: "QUEM É 'fulano'". Sim, porque no debate intelectual brasileiro o argumento decisivo em todos os domínios do conhecimento é – como diria Léon Bloy – ser aquilo que se convencionou chamar de "alguém". Quem exige do interlocutor suas credenciais de "alguém" prova, automaticamente, que se trata de um "ninguém" e que ele próprio, por seu lado, é indiscutivelmente "alguém". Diante da firmeza do interrogante e da mudez do interrogado, o ouvinte fica inibido de admitir para si mesmo que desconhece a ambos, e, para não passar vergonha ante os circunstantes (que também ignoram tudo do caso mas que ele imagina estarem informadíssimos), sai proclamando que o primeiro – ora, quem é que não sabe? – é pessoa universalmente conhecida.
Assim, pois, nada respondo, e deixo ao missivista o desfrute das agradáveis sensações decorrentes de fazer-se passar por "alguém", lamentando apenas que sejam tão fugazes. Nem tudo é perfeito. Mas resta sempre a esperança: ainda há de se inventar um modo de prolongar esse orgasminho.

por O abre aspas❞R Cresppo ☧

LIBERDADE E SEGURANÇA: UMA VISÃO ACERCA DO LIBERALISMO, COMUNISMO, CAPITALISMO, SOCIALISMO E O "ESTADO DE BEM ESTAR SOCIAL"

Postado originalmente em São Paulo, 05 de Dezembro de 2013 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/liberdade-e-seguranca-uma-visao-acerca-do-liberalismo-comunismo-socialismo-e-o-estado-de-bem-estar-social.html]



Liberalismo e socialismo. Eu, na verdade, não acredito que requeiram conciliação.
Defino o socialismo de um modo muito simples, como já disse em outros posts, pela qualidade de vida de seus membros mais fracos.
Se se pensa, por exemplo, num dos fundadores do liberalismo moderno, John Stuart Mill, nota-se que ele também chegou ao socialismo por acreditar que para implementar o programa liberal, o programa da liberdade humana, é necessário uma distribuição justa de oportunidades, diminuindo-se a distância entre os membros mais ricos e os mais pobres da sociedade. E, se nos lembrarmos de Lord Beveridge, o criador do Estado de bem-estar social britânico, o caso é o mesmo. Durante a guerra, o governo da Grã-Bretanha criou uma comissão para organizar um programa de bem-estar social (do qual Beveridge era diretor), prevendo que com o fim do conflito haveria milhões de desempregados que não mais aceitariam a sina dos oprimidos. Beveridge preparou então todo um programa que foi pouco a pouco aceito pelo governo após a guerra. Ora, ele não era um socialista e não se definiu jamais como tal. Dizia que era um liberal e que o que estava propondo era, na verdade, a implementação definitiva do programa liberal, porque, se o liberalismo quer que todos sejam seres autônomos e autoconfiantes, então para ser livre é necessário que se tenha recursos, que haja um chão firme no qual se apoiar. A idéia de Lord Beveridge, que infelizmente não se impôs, era que toda essa assistência social, esse bem-estar social, toda essa provisão eram necessários como medidas temporárias. E isso porque ele partia do pressuposto de que, para ter a coragem, a ousadia de ser aventurosas e se arriscar, as pessoas precisam se sentir seguras — e segurança elas não podem obter por si próprias, mas deve ser oferecida e garantida pela grande sociedade. Se as pessoas se arriscam sozinhas, correm o perigo de ser abatidas por um grande fracasso, uma tragédia, uma crueldade ou coisa semelhante. Deve haver, portanto, essa garantia do Estado, o que eu chamo de seguro coletivo contra o infortúnio individual. Se isso existe, as pessoas se enchem de coragem e, sem receio de tentar, logo podem tornar-se prósperas. Essa era a idéia de Beveridge.
Enfim, como vemos, se se considera o melhor na história do liberalismo e o melhor na história do socialismo, eles sempre convergem, há sempre essa conexão entre os dois. Para resumir, tudo se reduz à questão muito simples de que há dois valores igualmente indispensáveis para uma vida humana decente e digna: liberdade e segurança. Não se pode ter um sem que se tenha o outro. Esse é o meu ponto, mas infelizmente na prática política eles são normalmente justapostos e apresentados como tendo propósitos opostos, como sendo necessário sacrificar a segurança sob o argumento de que quanto maior ela for menos livre se é. A acusação mais comum hoje em dia é que o Estado de bem-estar social torna as pessoas dependentes, já que ninguém pode ser livre se depende de assistências de qualquer natureza: saúde, caridade e coisas do gênero. Isso tudo me soa muito cruel, porque eu sou um ser moral na medida em que me considero dependente de você. Em certo sentido, meu bem-estar depende do seu bem-estar, minha autonomia depende da sua autonomia. Assim, qualquer que seja a perspectiva da qual se parta, chega-se sempre à mesma questão de que, ou liberdade e segurança são obtidas juntas, ou não serão obtidas de modo algum. Esse é o ponto de encontro entre socialismo e liberalismo.
Não acredito que haja um progresso linear no que diz respeito à felicidade humana. Podemos dizer que, como um pêndulo, nos movemos de tempos mais felizes para tempos menos felizes e de menos felizes para mais felizes. Hoje temos medo e somos infelizes do mesmo modo como também tínhamos medo e éramos infelizes há cem anos, mas por razões diferentes. A modernidade sólida tinha um aspecto medonho: o espectro das botas dos soldados esmagando as faces humanas. Virtualmente todo mundo, quer da esquerda quer da direita, assumia que a democracia, quando existia, era para hoje ou para amanhã, mas que uma ditadura estava sempre à vista; no limite, o totalitarismo poderia sempre chegar e sacrificar a liberdade em nome da segurança e da estabilidade. Por outro lado, como Sennett mostrou, a antiga condição de emprego poderia destruir a criatividade e as habilidades humanas, mas construía, por assim dizer, a vida humana, que podia ser planejada. Tanto os trabalhadores como os donos de fábrica sabiam muito bem que iriam se encontrar novamente amanhã, depois de amanhã, no ano seguinte, pois os dois lados dependiam um do outro. Os operários dependiam da Ford assim como esta dependia dos operários, e porque todos sabiam disso podiam brigar uns com os outros, mas no final tendiam a concordar com um modus vivendi. Essa dependência recíproca mitigava, em certo sentido, o conflito de interesses e promovia algum esforço positivo de coexistência, por menor que fosse.
Bem, nada disso existe hoje. Os medos e as infelicidades de agora são de outra ordem. Dificilmente outro tipo de stalinismo voltará e o pesadelo de hoje não é mais a bota dos soldados esmagando as faces humanas. Temos outros pesadelos. O chão em que piso pode, de repente, se abrir como num terremoto, sem que haja nada ao que me segurar. A maioria das pessoas não pode planejar seu futuro muito tempo adiante. Os acadêmicos são umas das poucas pessoas que ainda têm essa possibilidade. Na maioria dos empregos podemos ser demitidos sem uma palavra de alerta. Para pessoas que viveram no tipo de sistema Ford, semitotalitário, que tinha uma tendência totalitária inerente, como Hannah Arendt dizia, nossas apreensões devem parecer incompreensíveis!


por O abre aspas❞R Cresppo ☧

O imbecil juvenil

Postado originalmente em São Paulo, 05 de Dezembro de 2013 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/o-imbecil-juvenil.html]



Já acreditei em muitas mentiras, mas há uma à qual sempre fui imune: aquela que celebra a juventude como uma época de rebeldia, de independência, de amor à liberdade. Não dei crédito a essa patacoada nem mesmo quando, jovem eu próprio, ela me lisonjeava. Bem ao contrário, desde cedo me impressionaram muito fundo, na conduta de meus companheiros de geração, o espírito de rebanho, o temor do isolamento, a subserviência à voz corrente, a ânsia de sentir-se iguais e aceitos pela maioria cínica e autoritária, a disposição de tudo ceder, de tudo prostituir em troca de uma vaguinha de neófito no grupo dos sujeitos bacanas.
O jovem, é verdade, rebela-se muitas vezes contra pais e professores, mas é porque sabe que no fundo estão do seu lado e jamais revidarão suas agressões com força total. A luta contra os pais é um teatrinho, um jogo de cartas marcadas no qual um dos contendores luta para vencer e o outro para ajudá-lo a vencer.
Muito diferente é a situação do jovem ante os da sua geração, que não têm para com ele as complacências do paternalismo. Longe de protegê-lo, essa massa barulhenta e cínica recebe o novato com desprezo e hostilidade que lhe mostram, desde logo, a necessidade de obedecer para não sucumbir. É dos companheiros de geração que ele obtém a primeira experiência de um confronto com o poder, sem a mediação daquela diferença de idade que dá direito a descontos e atenuações. É o reino dos mais fortes, dos mais descarados, que se afirma com toda a sua crueza sobre a fragilidade do recém-chegado, impondo-lhe provações e exigências antes de aceitá-lo como membro da horda. A quantos ritos, a quantos protocolos, a quantas humilhações não se submete o postulante, para escapar à perspectiva aterrorizante da rejeição, do isolamento. Para não ser devolvido, impotente e humilhado, aos braços da mãe, ele tem de ser aprovado num exame que lhe exige menos coragem do que flexibilidade, capacidade de amoldar-se aos caprichos da maioria - a supressão, em suma, da personalidade.
É verdade que ele se submete a isso com prazer, com ânsia de apaixonado que tudo fará em troca de um sorriso condescendente. A massa de companheiros de geração representa, afinal, o mundo, o mundo grande no qual o adolescente, emergindo do pequeno mundo doméstico, pede ingresso. E o ingresso custa caro. O candidato deve, desde logo, aprender todo um vocabulário de palavras, de gestos, de olhares, todo um código de senhas e símbolos: a mínima falha expõe ao ridículo, e a regra do jogo é em geral implícita, devendo ser adivinhada antes de conhecida, macaqueada antes de adivinhada. O modo de aprendizado é sempre a imitação - literal, servil e sem questionamentos. O ingresso no mundo juvenil dispara a toda velocidade o motor de todos os desvarios humanos: o desejo mimético de que fala René Girard, onde o objeto não atrai por suas qualidades intrínsecas, mas por ser simultaneamente desejado por um outro, que Girard denomina o mediador.
Não é de espantar que o rito de ingresso no grupo, custando tão alto investimento psicológico, termine por levar o jovem à completa exasperação impedindo-o, simultaneamente, de despejar seu ressentimento de volta sobre o grupo mesmo, objeto de amor que se sonega e por isto tem o dom de transfigurar cada impulso de rancor em novo investimento amoroso. Para onde, então, se voltará o rancor, senão para a direção menos perigosa? A família surge como o bode expiatório providencial de todos os fracassos do jovem no seu rito de passagem. Se ele não logra ser aceito no grupo, a última coisa que lhe há de ocorrer será atribuir a culpa de sua situação à fatuidade e ao cinismo dos que o rejeitam. Numa cruel inversão, a culpa de suas humilhações não será atribuída àqueles que se recusam a aceitá-lo como homem, mas àqueles que o aceitam como criança. A família, que tudo lhe deu, pagará pelas maldades da horda que tudo lhe exige.
Eis a que se resume a famosa rebeldia do adolescente: amor ao mais forte que o despreza, desprezo pelo mais fraco que o ama.
Todas as mutações se dão na penumbra, na zona indistinta entre o ser e o não-ser: o jovem, em trânsito entre o que já não é e o que não é ainda, é, por fatalidade, inconsciente de si, de sua situação, das autorias e das culpas de quanto se passa dentro e em torno dele. Seus julgamentos são quase sempre a inversão completa da realidade. Eis o motivo pelo qual a juventude, desde que a covardia dos adultos lhe deu autoridade para mandar e desmandar, esteve sempre na vanguarda de todos os erros e perversidade do século: nazismo, fascismo, comunismo, seitas pseudo-religiosas, consumo de drogas. São sempre os jovens que estão um passo à frente na direção do pior.
Um mundo que confia seu futuro ao discernimento dos jovens é um mundo velho e cansado, que já não tem futuro algum.

por O abre aspas❞R Cresppo ☧

Da psicologia fisiológica e da psicologia materialista

Postado originalmente em São Paulo, 05 de Dezembro de 2013 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/da-psicologia-fisiologica-e-da-psicologia-materialista.html]



A atitude da psicologia fisiológica de sensações e sentimentos, considerados como elementos psíquicos, é, naturalmente, a atitude da psicologia em geral.
O ponto de vista da psicologia materialista pode reclamar, na melhor das hipóteses, apenas o valor de uma hipótese heurística.

por O abre aspas❞R Cresppo ☧

Sob influenza sobe o som - Sobe o som III - Fela Kuti

Postado originalmente em São Paulo, 06 de Novembro de 2012 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/sob-influenza-sobe-o-som-sobe-o-som-iii-fela-kuti.html]


Over a decade after his death, vindication has come to Fela Kuti, Africa’s musical genius. AfroBeat, his gift to the world, is now an international staple on his own uncompromising terms, social content intact.
Throughout his life, Fela contended that AfroBeat was a modern form of danceable, African classical music with an urgent message for the planet’s denizens. Created out of a cross-breeding of Funk, Jazz, Salsa and Calypso with Juju, Highlife and African percussive patterns, it was to him a political weapon.
Fela refused to bow to the music industry’s preference for 3-minute tracks, nor did he buckle under entreaties to moderate his overwhelmingly political lyrics. He went down in 1997 still railing against the consumerist gimmicks that taint pop music, with the aim, he felt, of promoting and imposing homogeneous aesthetic standards worldwide, thereby inducing passivity.
The fact that AfroBeat is today globally winning hearts in its original form – lengthy, ably crafted, earthy compositions laced with explicitly political lyrics – suggests that Fela’s purgatory on earth may have served to awaken a sensibility in people to appreciate authenticity and substance.

THE MESSAGE


Fela’s rise in the early 1970s paralleled the downfall of the hopes Africans pinned on their newly won Independence. As a whole, Africans were again living in incarcerated societies; Nigeria, he said, was a “prison of peoples”. Africa had fallen mostly into the hands of uncaring thieves and scoundrels who were unmindful of wrecking society in order to sustain insolent lifestyles. To reclaim Africa’s stolen dignity became Fela’s obsession.


As many of these new countries turned into terror-drenched, neo-colonial states, Fela summoned his people to return to their senses and principles of old: self-pride, self-reliance, and decency rooted in traditional cultural norms. To achieve these, he prescribed forsaking the corrupting ways of Western society, its capitalist greed, its Communist despotism, the straitjacket moral conventions of Judeo-Christianity and Islam. He saw imperialism, colonialism and racism as scourges to be universally eradicated, and the structures that sustain them dismantled, before humankind could advance.
Fela’s seismic music infused freshness into the reality of rotten politics. In song after song, he summoned revolt, not solely against erstwhile tyrants and exploiters (“Zombie”, “Army Arrangement”, “Coffin for Head of State”) but against self-damaging prejudices and assimilationist alienation (“Yellow Fever”, “Colonial Mentality”, “Teacher, Don’t Teach Me No Nonsense”, “Gentleman”, “Lady”). He chastised the West (“International Thief Thief”, “Underground System”) and the local elites that fronted for multinationals (“Beasts of No Nation”, “Government of Crooks”).
Ordinary Africans embraced songs such as “Shakara”, “Sorrow Tears and Blood”, “Upside Down” and “Why Black Man Dey Suffer” for accurately mirroring their frustrations. They welcomed the graphic words of “Expensive Shit” or “Who No Know Go Know” as down-to-earth explanations for their lowly condition. More importantly, Fela’s music was a clarion proclamation that it was possible to reverse their lot (“Water No Get Enemy”, “Africa Center of the World”).
Groomed and pampered in youth by a pre-independence middle class but morphed by Black Power and pan-Africanist politics into a revolutionary ghetto hero, Fela voiced relentless condemnation of the so-called New Africa, attracting to himself a deluge of repression. His personal life became a harrowing tale of police beatings, victimization by the court system, near-death encounters with the Nigerian military.
Fela’s casual, uninhibited approach to sexual relations, his affection for nudity, further alarmed the uptight elites. Because of the Judeo-Christian concept of “sin”, he believed, humans were constrained by an “Adam-and-Eve” loathing of their own bodies. Monogamous marriage, individualism and “body-phobia”, he said, were Islamic-Arab or Judeo-Christian importations.
Few aspects of his life caused more affront, and media curiosity, than his marriage to twenty-seven beautiful fellow singers and dancers, aggravated by his impenitent use of marijuana. Though no woman ever claimed to have been coerced into marrying him or remaining at his side, these young, resourceful, intelligent and highly politicized co-wives were considered an insult to “good society”.
Nigeria’s rulers regarded Fela’s “Kalakuta Republic” as a Sodom and Gomorrah to be purged with sulphur and gunfire; this elicited from Fela a response whose trademark extravagance signaled out-and-out defiance. When convenient, he provoked outrage, rode it as if surfing a wave, and used it as political capital.
A life pockmarked by scandal allowed Fela to project himself as indestructibly macho, an image he relished and cultivated. This was as much a manifestation of patriarchal narcissism as an attempt to blunt the fear the Nigerian military’s ferocity had instilled into ordinary citizens.


THE MAN

Fela was a Promethean spirit, in a constant face-off with Death. In the solace of intimacy, he was jovial, boisterous and loquacious, but he was mercurial – reflective and wistful at times, irascible and distant at others. His father-brother-lover relationship with his wives was overall affectionate, their love and loyalty for him undeniable. But his angry outbursts at errant household members or defaulting band personnel were intimidating.


Anyone who knew him well was aware that he was a nurturing democrat as much as a charismatic autocrat. Intensely loyal to friends and family and a profoundly generous man, he could be quite dogmatic, inconsistent and arbitrary in views and behavior, reigning unfettered as a benevolent King over his Kalakuta commune.
Much of what Fela said may be questionable, but most of what he actually did is not. Intuitive, and shot-from-the-hip, Fela’s ideology was all his own – disjointed and contradictory, but powerful and original. His sincere commitment to the world’s underdogs is indisputable, as was his passionate love for Africa.
Although his uninhibited life-style openly challenged the nuclear/monogamous marriage structure, paving the way for progressive discussions of multiple forms of partnership, Fela’s take on sexual orientation and identity echoed archaic notions. He recognized the need to renegotiate the social pact between the genders and stood up for the rights of prostitutes as “sexual workers” deserving respect and legal protection. But he exhibited much confusion about homosexuality; faced with such issues, he retreated to the safe ground of established patriarchal/heterosexual socialization.
So, what is it about this quixotic rebel and libertine that fascinates us?

TRANSFORMATIVE INSUBORDINATION

Partly it was his transgressive deviation from conformity; partly, his willingness to pay a heavy price for defending freedom.
Above all, as an artist, he has left us an imperishable music that is indeed classical. His masterly compositions are a sort of people’s dictionary, translating into accessible art the complex ills afflicting society.
AfroBeat is about social, political and cultural literacy. It confronts the geography of world complacency, greed and fear and calls for a trans-formative insubordination.
By Carlos Moore, author of “FELA: This Bitch Of A Life”


por O abre aspas❞R Cresppo ☧

O que me dói

Postado originalmente em São Paulo, 05 de Novembro de 2012 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/o-que-me-doi.html]


O que me doí não é 
O que há no coração 
Mas essas coisas lindas
Que nunca existirão

por O abre aspas❞R Cresppo ☧

Como o vento

Postado originalmente em São Paulo, 05 de Novembro de 2012 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/como-o-vento.html]


O vento sopra
em teus cabelos.
Eles flutuam no ar
com liberdade e beleza.

Queria ser o vento
para poder te tocar,
para poder te sentir,
sem te machucar
nem te ferir.

Queria ser o vento
para estar ao teu lado
e soprar do seu rosto
toda tristeza e mágoa.

E como mágica
fazê-la flutuar
deixar os problemas
e sonhar...

Sonhar sozinha,
e sentir o carinho
com que passo por você.

Mas quando vejo,
você foi embora
e o vento acabou.

Você foi embora
sem saber como é
sonhar um sonho verdadeiro.
Você foi sem saber
o que é voar em devaneio.

Você se foi... sozinha.

Para onde estava indo
com estes olhos de esmeralda
com estes lábios doces
e seus cabelos que desciam suas costas
e subiam novamente

Pareciam um enorme campo
que o vento acariciava
e por onde ele passava
uma marca ele deixava.

Marcas de carinho
que você não percebeu
que estavam em você.

Marcas de carinho
que o vento não deixa,
que o vento não faz.

Mas sim, marcas que fiz
em teu coração.

Marcas sem dor,
sem sentimento,
sem cor.

Como o vento...

Vento,
que contorna seu corpo
sem te ferir,
sem você sentir.

Feche os olhos.
E veja o vento;
ele chora sua falta.

Mas com você, o vento fica
em movimento.
Ele tira suas mágoas
e te faz sonhar.
Te leva longe,
Onde o vento não vai.

Mas por você, o vento vai
até parar de ventar.
Aí você volta,
e se esquece.

Das alegrias, das risadas
do carinho que o vento te fez.

Como queria ser o vento
para te fazer feliz
mesmo que por pouco tempo,
mesmo que você não se lembre
estarei sempre perto...

Estarei sempre perto.
Estarei no seu coração.
Fiz marcas nele que não doem
Mas que para sempre ficarão.

Estarei sempre perto de você
como o vento...


por O abre aspas❞R Cresppo ☧

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Recordações

Postado originalmente em São Paulo, 05 de Novembro de 2012 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/recordacoes.html]


Existem nas recordações de todo homem coisas que ele só revela aos amigos. 
Há outras que não revela mesmo aos amigos, mas apenas a si próprio, e assim mesmo em segredo. 
Mas também há, finalmente, coisas que o homem tem medo de desvendar até a si próprio.

por O abre aspas❞R Cresppo ☧

Quem tentar possuir uma flor

Postado originalmente em São Paulo, 05 de Novembro de 2012 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/quem-tentar-possuir-uma-flor.html]


Quem tentar possuir uma flor, verá sua beleza murchando.
Mas quem apenas olhar uma flor num campo, permanecerá para sempre com ela.
Você nunca será minha e por isso terei você para sempre.

por O abre aspas❞R Cresppo ☧

Intensionem vivunt, ego vivo

Postado originalmente em São Paulo, 05 de Novembro de 2012 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/intensionem-vivunt-ego-vivo.html]


Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida,
há o amor.
Que tem que ser vivido
até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.

por O abre aspas❞R Cresppo ☧

Sola veritate

Postado originalmente em São Paulo, 05 de Novembro de 2012 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/sola-veritate.html]


A única verdade é que vivo.
Sinceramente, eu vivo.
Quem sou?
Bem, isso já é demais!

por O abre aspas❞R Cresppo ☧

Solidão maior

Postado originalmente em São Paulo, 05 de Novembro de 2012 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/solidao-maior.html]


Que minha solidão me sirva de companhia.
que eu tenha a coragem de me enfrentar.
que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.


por O abre aspas❞R Cresppo ☧

Nefas videre!

Postado originalmente em São Paulo, 26 de Outubro de 2012 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/nefas-videre.html]


accensus furiis saevit patris hispidus ultor
frutex nimis pius. sed alteros necat
ne prope mille malo mala se ostendant sua victo.
(nefas videre!) fulmina cruoribus

tincta furent in nos scelerataque funera adurent
nisi scelestem ab arcibus repellimus.
scilicet iste frutex deum adorat: nomine Martem
vocat precans ut orbis immerens cadit.


por O abre aspas❞R Cresppo ☧

Ante opium; tunc peccatum et pœnitentia.

Postado originalmente em São Paulo, 26 de Outubro de 2012 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/ante-opium-tunc-peccatum-et-poenitentia.html]


É antes do ópio que a minh'alma é doente. 
Sentir a vida convalesce e estiola 
E eu vou buscar ao ópio que consola 
Um Oriente ao oriente do Oriente. 

...
Esta vida de bordo há-de matar-me. 
São dias só de febre na cabeça 
E, por mais que procure até que adoeça,
já não encontro a mola pra adaptar-me. 

Em paradoxo e incompetência astral 
Eu vivo a vincos de ouro a minha vida,
Onda onde o pundonor é uma descida 
E os próprios gozos gânglios do meu mal. 

É por um mecanismo de desastres,
Uma engrenagem com volantes falsos, 
Que passo entre visões de cadafalsos 
Num jardim onde há flores no ar, sem hastes. 

Vou cambaleando através do lavor 
Duma vida-interior de renda e laca. 
Tenho a impressão de ter em casa a faca 
Com que foi degolado o Precursor. 

Ando expiando um crime numa mala, 
Que um avô meu cometeu por requinte.
Tenho os nervos na forca, vinte a vinte, 
E caí no ópio como numa vala. 

Ao toque adormecido da morfina
Perco-me em transparências latejantes 
E numa noite cheia de brilhantes,
Ergue-se a lua como a minha Sina.

Eu, que fui sempre um mau estudante, agora
Não faço mais que ver o navio ir
Pelo canal de Suez a conduzir 
A minha vida, cânfora na aurora.

Perdi os dias que já aproveitara
. Trabalhei para ter só o cansaço 
Que é hoje em mim uma espécie de braço 
Que ao meu pescoço me sufoca e ampara.

E fui criança como toda a gente. 
Nasci numa província portuguesa 
E tenho conhecido gente inglesa 
Que diz que eu sei inglês perfeitamente. 

Gostava de ter poemas e novelas 
Publicados por Plon e no Mercure, 
Mas é impossível que esta vida dure. 
Se nesta viagem nem houve procelas! 

A vida a bordo é uma coisa triste, 
Embora a gente se divirta às vezes. 
Falo com alemães, suecos e ingleses 
E a minha mágoa de viver persiste.

Eu acho que não vale a pena ter
Ido ao Oriente e visto a índia e a China.
A terra é semelhante e pequenina 
E há só uma maneira de viver. 

Por isso eu tomo ópio. É um remédio
Sou um convalescente do Momento. 
Moro no rés-do-chão do pensamento
E ver passar a Vida faz-me tédio. 

Fumo. Canso. Ah uma terra aonde, enfim, 
Muito a leste não fosse o oeste já! 
Pra que fui visitar a Índia que há 
Se não há Índia senão a alma em mim? 

Sou desgraçado por meu morgadio. 
Os ciganos roubaram minha Sorte. 
Talvez nem mesmo encontre ao pé da morte 
Um lugar que me abrigue do meu frio. 
Eu fingi que estudei engenharia. 
Vivi na Escócia. Visitei a Irlanda.
Meu coração é uma avòzinha que anda
Pedindo esmola às portas da Alegria.

Não chegues a Port-Said, navio de ferro! 
Volta à direita, nem eu sei para onde. 
Passo os dias no smokink-room com o conde - 
Um escroc francês, conde de fim de enterro. 

Volto à Europa descontente, e em sortes 
De vir a ser um poeta sonambólico. 
Eu sou monárquico mas não católico 
E gostava de ser as coisas fortes. 

Gostava de ter crenças e dinheiro, 
Ser vária gente insípida que vi. 
Hoje, afinal, não sou senão, aqui, 
Num navio qualquer um passageiro. 

Não tenho personalidade alguma. 
É mais notado que eu esse criado 
De bordo que tem um belo modo alçado
De laird escocês há dias em jejum. 

Não posso estar em parte alguma.
A minha Pátria é onde não estou.
Sou doente e fraco. 
O comissário de bordo é velhaco. 
Viu-me co'a sueca... e o resto ele adivinha. 

Um dia faço escândalo cá a bordo, 
Só para dar que falar de mim aos mais.
Não posso com a vida, e acho fatais 
As iras com que às vezes me debordo. 

Levo o dia a fumar, a beber coisas,
Drogas americanas que entontecem, 
E eu já tão bêbado sem nada! Dessem 
Melhor cérebro aos meus nervos como rosas. 

Escrevo estas linhas. Parece impossível 
Que mesmo ao ter talento eu mal o sinta!
O fato é que esta vida é uma quinta 
Onde se aborrece uma alma sensível. 

Os ingleses são feitos pra existir. 
Não há gente como esta pra estar feita 
Com a Tranqüilidade. A gente deita 
Um vintém e sai um deles a sorrir. 

Pertenço a um gênero de portugueses 
Que depois de estar a Índia descoberta 
Ficaram sem trabalho. A morte é certa.
Tenho pensado nisto muitas vezes. 

Leve o diabo a vida e a gente tê-la! 
Nem leio o livro à minha cabeceira.
Enoja-me o Oriente. É uma esteira 
Que a gente enrola e deixa de ser bela. 

Caio no ópio por força. Lá querer 
Que eu leve a limpo uma vida destas 
Não se pode exigir. Almas honestas 
Com horas pra dormir e pra comer, 

Que um raio as parta! E isto afinal é inveja. 
Porque estes nervos são a minha morte. 
Não haver um navio que me transporte 
Para onde eu nada queira que o não veja! 

Ora! Eu cansava-me o mesmo modo.
Qu'ria outro ópio mais forte pra ir de ali 
Para sonhos que dessem cabo de mim 
E pregassem comigo nalgum lodo.

Febre! Se isto que tenho não é febre, 
Não sei como é que se tem febre e sente. 
O fato essencial é que estou doente.
Está corrida, amigos, esta lebre. 

Veio a noite. Tocou já a primeira 
Corneta, pra vestir para o jantar. 
Vida social por cima! Isso! E marchar 
Até que a gente saia pla coleira! 

Porque isto acaba mal e há-de haver 
(Olá!) sangue e um revólver lá pró fim
Deste desassossego que há em mim
E não há forma de se resolver. 

E quem me olhar, há-de-me achar banal, 
A mim e à minha vida... Ora! um rapaz... 
O meu próprio monóculo me faz
Pertencer a um tipo universal. 

Ah quanta alma viverá, que ande metida 
Assim como eu na Linha, e como eu mística! 
Quantos sob a casaca característica 
Não terão como eu o horror à vida? 

Se ao menos eu por fora fosse tão
Interessante como sou por dentro!
Vou no Maelstrom, cada vez mais pró centro. 
Não fazer nada é a minha perdição. 

Um inútil. Mas é tão justo sê-lo! 
Pudesse a gente desprezar os outros 
E, ainda que co'os cotovelos rotos, 
Ser herói, doido, amaldiçoado ou belo! 

Tenho vontade de levar as mãos 
À boca e morder nelas fundo e a mal. 
Era uma ocupação original 
E distraía os outros, os tais sãos. 

O absurdo, como uma flor da tal Índia 
Que não vim encontrar na Índia, nasce
No meu cérebro farto de cansar-se.
A minha vida mude-a Deus ou finde-a... 

Deixe-me estar aqui, nesta cadeira,
Até virem meter-me no caixão. 
Nasci pra mandarim de condição, 
Mas falta-me o sossego, o chá e a esteira. 

Ah que bom que era ir daqui de caída 
Pra cova por um alçapão de estouro! 
A vida sabe-me a tabaco louro. 
Nunca fiz mais do que fumar a vida. 

E afinal o que quero é fé, é calma, 
E não ter estas sensações confusas. 
Deus que acabe com isto! Abra as eclusas — 
E basta de comédias na minh'alma!

por O abre aspas❞R Cresppo ☧

O que varia, magia.

Postado originalmente em São Paulo, 26 de Outubro de 2012 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/o-que-varia-magia.html]


A magia é um conhecimento abrangente da natureza.
O que é o tempo, senão a variedade de uma coisa?
Nada é tão escondido que não possa ser revelado através de seu fruto.
Viva a magia, de uma maneira simples e eficaz.

por O abre aspas❞R Cresppo ☧

Abnego. (Ab)sinto.

Postado originalmente em São Paulo, 26 de Outubro de 2012 em meu antigo blog.
[http://sobinfluenza.xpg.uol.com.br/abnego-ab-sinto.html]


Cheio de espuma e âmbar misturados
Esvaziarei este copo novamente
Visões as mais hilariantes embarafustam
Pela alcova de meu cérebro
Pensamentos os mais curiosos fantasias as mais extravagantes
Ganham vida e se dissipam;
O que me importa o passar das horas?
Hoje estou tomando absinto.


por O abre aspas❞R Cresppo ☧